sexta-feira, 23 de abril de 2010

Baiano Graças a Deus, Sim senhor!!

É fato: somos o que o que somos e não importa o quanto se filosofe sobre o assunto ou quais teorias sejam escritas sobre nós nas bolachas de chope do Leblon (ou com a flexibilidade dos espaguetes das cantinas do Bixiga), o baiano vai ter seu jeito próprio e inconfundível de ser até morrer atrás do trio, com a lata de cerveja na mão, vibrando nos acordes de elétricas guitarras.
Mas, como a Bahia não vai morrer nunca, a passagem desse bastão de lata, dessa malemolência, desse sabor de tarde amortecida, dentro da casa grande e da senzala, graças a Deus – para o seu desgosto ou confusão, caro estrangeiro – não vai findar. É nossa marca, nosso orgulho nacional. Nacional, sim senhor! É isso mesmo que você ouviu (ou leu) pois a Bahia nada mais, nada menos é do que um país de tantas facetas e lados, que os imprudentes teimam em chamar de estado.
Estado… Pois sim! A Bahia é universal e disso só não sabe quem nada perguntou a Edil Pacheco.
Portanto, recomendo: Para melhor compreender o que somos e podemos, desconfio que a solução talvez não esteja em mudar o jeito baiano de ser, mas em forçar um giro de 180º na forma que as pessoas veem como o baiano é.
Pra começar, o cara que não entende a Bahia é porque, quando ele vinha, a gente ia. E aqui é um lugar tão especial que você já começa a chegar a Salvador na hora em que compra a passagem.
A seguir, listo algumas modestas contribuições que podem ajudar aquele que é de fora a compreender como somos aqui dentro.
Primeiro. Ser baiano não é só uma questão de geografia. Alguém pode ter nascido, agora, tranquilamente, em Copenhague. Se quando ele chorar você escutar uns atabaques, é porque nasceu mais um baiano de verdade.
Outra lenda que o bom senso manda jogar por terra é essa de que – mesmo com a nossa história plena de realizações em todos os campos da produtividade, desde o braçal até o intelectual – não trabalhamos. Trabalhamos sim, e muito! E trabalhar além do que já fazemos seria mais redundante do que tentar pôr trança em rastafari.
Está certo, tenho de admitir, se trabalho fosse bom, Caymmi teria nascido em São Paulo, mas essa constatação não nos torna eternos bronzeados, deitados numa rede, tomando água de coco. Quem é de fora precisa, definitivamente, compreender uma coisa sobre nós:
Acredite, na maior parte do tempo o baiano trabalha muito. No tempo que sobra, já que ninguém é perfeito, ele se dedica, com afinco, em pensar como resolver, urgentemente, esse problema.
E, se você quer saber a razão de tanta festa, a Bahia só faz festa o ano inteiro porque ficou combinado que trabalhar seria atribuição dos outros. Só que ela, dentro de sua nobreza, não cumpre isso; e até mesmo festejar, meu nego, dá um trabalhão danado. Experimente e você vai saber do que falo.
Outro fator que contribui pra essa festança é que a baianidade será sempre uma linha traçada sobre a distância mais curta entre o cérebro e a cintura. E se isso, algumas vezes, pode ser o nosso abismo, também é a nossa salvação, aquilo que nos difere de outros povos da Terra Brasilis. E é em cima dessa linha esticada que a representa (e que já é ela mesma) que a baianidade se equilibra. Mais coerente impossível.
De uns tempos pra cá, ranzinza como sou, tenho reclamado que, musicalmente, na Bahia, sabe-se lá por qual capricho da estrutura, parece que a maioria dos cérebros desceu para cintura. Mas essa é uma via de mão dupla onde cada chacra, seja o de baixo ou o de cima, nunca perde por esperar. Não em Salvador, terra em que a cortina sobe e desce o tempo inteiro para mais um espetáculo da excelência do improviso.
Mas temos também nossos pontos negativos, não vou tapar o Farol com a frigideira. Só que, até isso, como aquela melequinha de Gisele Bündchen flagrada na revista de famosos, faz parte do Belo de nossa grandeza. Nada há sem o lado B, nem você.

Daí que convém ficar atento a algumas recomendações:

1. Quando se chega antes a um encontro, na Bahia, duas coisas há que se ter sempre em mente: esqueça o relógio e sente. Baiano que é baiano marca um encontro pra hoje, mas só chega para o ano. Somos o rei do estamos indo e faz parte de nosso sangue não admitir isso. Mas, quer saber? Pra você ter uma idéia, se tivesse sido criada na Bahia a expressão per saecula saeculorum seria grafada como é pra já. Só que vocês não vão entender nunca, já que existem coisas por aqui mais importantes do que a pontualidade – e chegar atrasado é uma delas. Como sublinhou Risério, não dá pra largar a conversa só pra cumprir o relógio. E o baiano só não é pontual porque tem, aí sim!, preguiça de fazer frente à concorrência de Londres.
2. Tampouco estranhe muito esse costume “detestável” que o baiano tem de fazer xixi nas ruas, pois, de certa maneira, não deixa de estar coerente com as políticas, aqui, implementadas – de Educação, inclusive. Daí que, a cada logradouro que é pavimentado em Salvador, a Saúde agradece ao Erário a melhoria das condições de seus públicos sanitários. É só outra forma do governo exercer o saneamento. Entre um pipi e outro, pense nisso e vá relevando.
3. Onde come um come um exército. Na Bahia, esse é o credo. Portanto, fique atento. Aqui, quando você convida, seu único convidado se acha no direito de levar junto um regimento bem maior do que a comida. Não pode dar conta de um batalhão? Então não convide nem unzinho, sequer, para o feijão.
4. Outra coisa: eu posso falar mal de Salvador, mas você não. Faz favor!!!!
Por fim, Se você não é universal, não queira entender a Bahia porque vai se dar mal. E lembre-se: baiano, que tem tanto carisma que já nasce com empresário, só filosofa sentado porque o copo fica melhor acomodado.
E como sou seu brother deixo-lhe um valioso adendo:
Não basta descobrir o que a baiana tem. Você tem que ter também.

Créditos: http://jeitobaiano.wordpress.com

Um comentário:

Caru disse...

Eu conheço poucos baianos, mas minha mãe se considera "baianeira" por ter nascido no norte de minas...

Adorei o texto... mto sincero e nada mitificado :)

Obrigada pela visita a meu blog

bjos